Era meio da tarde, no final de novembro.
No dia seguinte eu ia apresentar o meu TCC e saia do
laboratório daquele jeito que só quem tem ansiedade e sofre por antecipação
sabe... Estava nervosa, criando as piores cenas na cabeça, e querendo dormir pra
só acordar 2 dias depois.
Foi bem nesse momento, em meio da minha tempestade cerebral,
que surge essa pessoa, lá no final do caminho que leva dos departamentos de
Matemática, Física e Química até a rua na UFSC. Ela estava com o uniforme de
algum colégio que não conheço, a mãe mais atrás com uma mochila de rodinhas na
mão, e ela na frente, correndo na minha direção.
Nunca tinha visto ela antes. Não conhecia a mãe. Não fazia
ideia de quem ela era. Mas mesmo assim, ela abriu o mais lindo sorriso do mundo
quando me viu, deu uma rápida olhada pra mãe, e correu pra mim. Parou na minha
frente, abraçou minha cintura com força e olhou pra mim, ainda sorrindo e
disse: "Você quer casar comigo?"
Foram apenas 1 ou 2 segundos entre a pergunta dela e a minha
resposta, mas nesse ínfimo tempo todo o nervoso que eu estava sentindo, toda a insegurança,
todo o medo do incerto do dia seguinte se dissolveram tão rápido e fácil quando
o sorriso daquela criança, e eu rindo disse "Claro que sim, sua
linda!" Ela riu, me soltou, e correu para um casal atrás de mim,
provavelmente pra pedir pra casar com eles também.
Já faz quase 1 ano que isso aconteceu, mas me marcou tanto
que eu tinha que falar sobre. Naquele dia eu fui dando risadinhas até em casa,
pensando na fofura e na inocência daquela menininha que me parou minutos antes.
Ela não teve vergonha de correr dando risada, não teve vergonha de abraçar um
estranho, e teve toda a inocência do mundo para falar algo que a maioria dos
adultos não tem coragem de falar nem brincando. Aquela simples pergunta, cheia
de divertimento, que fazia os olhinhos daquela menininha brilharem, sem ela
saber, tiraram um peso ruim de cima de mim e me ensinou mais um pouquinho, do
que ao longo dos anos eu já vinha aprendendo com crianças no geral: não tenha
vergonha. Não tenha medo. Seja você.
Nós nos seguramos tanto depois de "adultos"... Já
percebeu como é difícil pra nós dizermos as coisas como elas são, assim, com a
sinceridade de uma criança? Já pensou quantas más interpretações nos bloqueiam
de dizer para alguém um simples "Você está muito bonita hoje" ou
coisas do gênero? Por que deixamos que essas barreiras sejam construídas com o
passar dos anos? Por que nos bloqueamos de fazer o bem para outra pessoa,
muitas vezes por medo do que "os outros vão pensar"?
O que aquela menina me mostrou, além de que sorrir é um
delícia, foi que a gente sim, tem muito o que aprender com as crianças. E sendo
otimista, a gente tem apenas que se lembrar de como era simples, e fazer ser
assim: simples.
A gente tem que parar de complicar a vida, de pensar demais,
de sobrecarregar o cérebro com coisas que só existem na nossa cabeça. Temos que
ser mais como essa menina linda que me parou naquele dia de novembro, e me
ensinou a ser leve.
Não tenha medo do julgamento dos outros.
Quer dançar, dance. Quer cantar na rua, cante. Quer sair por
aí, saia. Quer dizer algo pra alguém, mas está com medo, diga. Está mais que na
hora de pararmos de perder tempo sendo complicados, quando podíamos ser mais
felizes sendo simples.
Então vai lá... "pede alguém em casamento" por aí.
Deixe o dia de alguém melhor.
Faça ser simples. Seja simples.
Seja criança.
E feliz seu dia! :)