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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Independência ou morte! Será?

Acabei de chegar em casa. Tive vôlei e tudo mais, mas fui de olhos ainda um pouco inchados de chorar. Mais cedo, no laboratório, tive uma crise de desespero (fim de mestrado né, mores, praticamente surtei na bancada em cima de dados e mais dados de experimentos). Comecei a me sentir o ser humano mais inútil do planeta química. Entre lágrimas e soluços, a ladainha se resumia em "sou uma fraude", "não sei nada de química", "não consigo nem ajudar minha irmã com química na escola, como que eu me formei nesse curso?", "sou uma mentira" e, o mais repetido, "não sei fazer nada sozinha nesse laboratório". A inconformidade era com a minha dependência frenética dos meus colegas para experimentos, análises, explicações, tratamento de dados e blábláblá. Minhas amigas me consolando e me desmentindo, uns ameaçando me bater, mas eu continuava chorando.

Passados alguns minutos, a medida que fui me acalmando (e gastando menos papel na saga secar lágrimas...) alguns pensamentos foram indo pro seu devido lugar...

O gatilho da choradeira foi o desespero por depender 90% dos outros pra trabalhar/terminar meu TCC/terminar meu mestrado/fazer qualquer coisa. Eu chorei porque estava muito, muito, muito chateada por não saber tratar dados da famigerada titulação que tem me deixado no laboratório em média 10h por dia na última semana... Titulação essa que eu tive que pedir ajuda pra fazer, óbvio, porque eu NUNCA tinha visto ninguém fazer, quem dera eu já ter feito.
Então eu fui percebendo que sim, eu tinha precisado de ajuda pra primeira vez... mas de lá pra cá eu já repeti o experimento 2 vezes e sozinha... E não precisei mais de ajuda... Das 3 vezes que eu fiz, em apenas 1 delas eu precisei de apoio. E só no começo. 33% das vezes com ajuda, contra 67% "voando solo".

As lágrimas, de vez, começaram a secar...

Segundo pensamento forte que surgiu na minha cabeça: mães.

Não há no universo mulher que saiba ser mãe. Que nasceu prontíssima pra isso. Das que podem ter auxílio, 100% ouve conselho, pede ajuda, faz curso, pede ajuda, chora muito, pede ajuda... pra amiga, prima, mãe, avó, tia, vizinha, cachorrinha... se já pariu ela pede socorro! Agora me diz: isso torna cada mulher-mãe desse mundo um ser incompetente? Por ela pedir ajuda pra ser uma "mãe melhor" nas primeiras experiências, isso faz dela o RESTO DA VIDA COMO MÃE uma 'não-mãe'? Se ela não correu atrás e aprendeu sozinha, ela não é mais uma mãe? Por que DIABOS eu, quando peço ajuda pra fazer uma cinética, que nunca vi na vida, vou ser menos química que a pessoa me ajudando???

Agora escrevendo isso chega a ser dolorido de pensar que eu estava me julgando tanto assim horas atrás! Isso vale pra TUDO na vida! No Masterchef ontem, por exemplo... todo mundo pedia conselho pro Chef-Mor Fogaça na prova, porque ele sabia melhor como fazer o que todos estavam fazendo (experiência, meu bem!)... isso não fez de nenhum dos participantes menos chef de cozinha... Pelo contrário, depois das dicas, cada um fez seu trabalho deliciosamente bem. 

Eu não sei você, mas eu percebi hoje que estava confundindo incapacidade com inexperiência. Acabei de passar por isso. Não saber fazer algo que nunca fiz não me torna incapaz de fazer aquilo, apenas inexperiente. Ao invés de gastar meu tempo e energia lutando pra descobrir ou fazer algo sozinha, se eu perguntar pra alguém ali do lado que sabe e está disposto a mostrar, por que tenho que ficar me remoendo? Muito mais esperto pedir ajuda. Quando aprender, vou fazer de novo, sozinha, e vai dar tudo certo. E se eu esquecer, vou perguntar de novo, e reaprender com quem tem mais EXPERIÊNCIA, e também vai dar tudo certo! Isso é um fato, apenas.

Mas não... A gente fica o tempo todo buscando uma independência, uma falsa pró atividade, que não nos torna melhor ou pior que ninguém, apenas nos transforma em pessoas mais isoladas e caóticas.
Se a gente colocasse de uma vez por todas na cabeça que pedir ajuda, aprender com os outros, agir em conjunto, não te faz pior, mas sim melhor, não teria pessoas como eu e muitas outras chorando por aí desesperadas se sentindo burras ou inúteis. Teria gente com mais tempo livre, relações melhores no trabalho, e adivinha? PESSOAS COM MAIS EXPERIÊNCIA SURGINDO. Porque se um dia tu pergunta, no outro tu pode ser quem responde... Ciclo do aprendizado. Não precisa ficar nessa loucura de fazer tudo sozinho, nunca pedir ajuda, ser independente totalmente. Tem coisas que tu tem que ser ajudado, outras quem ajuda é você, e nada disso te faz melhor ou pior que ninguém, te faz apenas o ser humano que tu é, com dificuldades em algumas coisas, facilidades em outras, e vivendo e aprendendo.

Vivendo.

Aprendendo.


Pra quê dificultar? 

domingo, 3 de setembro de 2017

Você já se decepcionou hoje?

Situação 1: início da manhã, semana passada, proximidades da UFSC.
Cara bem vestido, saindo de um carro conhecidamente caro. Baseada em malditos estereótipos, deduzo que o ser humano em questão é um ser rico e bem educado, que faz as coisas de modo "correto". Entretanto, a ação seguinte do cidadão é arremessar um copo plástico, do qual ele bebia café, no chão, na valeta lateral a rua, mesmo estando a 3 passos da lixeira.
Resultado: indignação e decepção.

Situação 2: fim de tarde, algumas semanas atrás, UFSC.
Uma garota com cara de poucos amigos, que eu já avistei algumas vezes pela universidade, passa a conviver comigo e participar de uma das minhas atividades extracurriculares (que sim, são muitas, mas esse não é o tópico.). Das muitas vezes que cruzei com essa menina na UFSC, baseada em malditos estereótipos, deduzi que ela era uma "chata metida a besta". Entretanto, passado alguns dias de convivência, descubro que a menina é um amor de pessoa, nada chata, nem metida a besta.
Resultado: alegria e sensação de culpa pelo pré julgamento.

Essas duas situações me fizeram pensar sobre os estereótipos que nos cercam, claro, que são 90% das vezes um péssimo julgamento. Mas o que me deixou mais filosófica, digamos assim, foi como lidamos com as respostas as nossas expectativas. Tá cheio de piadas por aí baseadas em "expectativa x realidade" e a gente dá risada, e só dá risada porque entende o que aquilo quer dizer.

Nas duas situações, eu acabei com dois tipos diferentes de reação: na primeira eu fiquei extremamente frustrada, porque pensei algo da pessoa e ela me decepcionou. (Parênteses explicativo: beleza que o cara podia estar com pressa e tal, e há quem justifique tal ato de ser porco por aí, mas eu simplesmente abomino esse tipo de atitude, então no meu ponto de vista, ele foi um babaca, apenas). Na segunda situação, a realidade foi boa, porque descobri que uma pessoa que era pra ser desagradável, acabou por se mostrar muito legal, com a qual eu gosto de conviver atualmente.

Apesar de eu ter me decepcionado com uma, e ficado feliz com outra, o que ambas situações têm em comum é: decepção. 
Pensei algo bom de alguém, era ruim: quebrei a cara. 
Pensei algo ruim de alguém, era bom: quebrei a cara.

Como lidar com a decepção, com esse sentimento de "quebrar a cara"?
Como aprender a viver sabendo que você vai se decepcionar muitas e muitas vezes ainda?

A vida vai ser cheia desse momentos que tu está todo convencido que está tudo certo, que nada vai dar errado, que ninguém vai te chatear, e "bum", decepção. Esperamos que sempre possa ser do jeito da situação 2, em que no final, a decepção valeu a pena, foi boa. Mas nem sempre é assim.

Minha amiga me mostrou uma frase esses dias que reflete bem isso. Era algo como "não se pode forçar ninguém a estar por perto, tem que ser natural. Se não é para estar próximo por vontade própria, que nem fique". Quantas e quantas vezes você colocou sua "expectativa" em alguém próximo, algum amigo, algum namorado ou namorada, num parente, e essa pessoa acabou não correspondendo a sua "realidade" pré imaginada? Quanta raiva já passou por alguma situação que não esperava? Quantas lágrimas já não correram pelo rosto porque acreditou que alguém fosse ser especial pra você, e depois a pessoa se afastou, sem nenhuma explicação prévia? Quantas "viajadas" durante o dia, ficando triste por aí, pensando coisas como "não acredito que essa pessoa fez isso comigo"?

Eu já perdi as contas. Sou a rainha da expectativa frustrada. Guardo 10 reais sonhando com a casa própria. Aí, no final, acabo sem casa própria e sem os 10 reais. Ainda não aprendi como não criar expectativas, e acho que nunca vou aprender, assim, 100%. Mas digamos que já estou "calejada" o suficiente para, quando acontecer, eu parar e pensar no porque daquilo ter acontecido, aprender uma coisinha ou outra, e "ah, dane-se, bola pra frente".

Claro que não é fácil, afinal não nascemos sabendo como lidar com a decepção. E não tem fórmula mágica. É uma daquelas coisas que a gente tem que viver pra ir pegando o jeito. Mas alguns de nós sofrem, e as vezes mais do que deveriam. Alguns aos poucos vão aprendendo a lidar. Alguns levam mais tempo... mas no final, todos devem buscar aprender melhor como lidar com decepção. Ou antes disso, aprender a não criar tantas expectativas sobre coisas ou pessoas. É como se fosse assim: antes de torcer pro colete a prova de balas funcionar, melhor não dar munição ou ser alvo fácil pro atirador.


E 'bora tentar ser feliz. 

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Você não precisa de uma arma para matar alguém

Cá estava eu hoje a tarde, humildemente comendo minha granolinha com iogurte, quando decidi ver uma série (porque a melhor desculpa para se ver série é porque se está comendo. E a melhor desculpa pra comer é por estar vendo séries. Um ciclo lindo!) Então fui lá e escolhi um episódio de Criminal Minds (sim, eu cometi o erro maravilhoso de iniciar essa pequena série de mais de 10 temporadas agora... acontece... prossigamos). No meio do episódio eis que surge a seguinte frase: "Você não precisa de uma arma para matar alguém." Até aí tudo bem, a frase deu aquela batidinha no meu subconsciente, mas eu deixei de lado... No desenrolar do episódio acontece muita coisa, sendo que uma delas é um despencar gigantesco de xingamentos pra cima de um dos personagens, falados por alguém próximo a ele. Beleza que era tudo um super plano de sobrevivência através de comunicação por sinais e tudo mais, mas as palavras não deixavam de ser ditas (e ouvidas) pela pessoa. 

Então a frase volta.
"Você não precisa de uma arma para matar alguém."

            Eu terminei o episódio e fiquei uns 30 minutos pensando nela e essa frase ainda está reverberando pela minha mente... e eu acho que ela vai passar mais um tempo por aqui, porque eu bem me conheço...
Vocês já sabem né, que as nossas atitudes não atingem somente a gente, certo? Então vocês já notaram o poder de um pensamento impaciente, de uma palavra mal expressada, de uma atitude errada, não?
Vocês já pararam pra pensar quantos pequenos assassinatos vocês já cometeram nessa vida, assim, sem notar? Ou quantas vezes já te mataram rapidinho, assim, sem querer?

            Essa pequena reflexão está sendo jogada aqui para que, quem ler, comece a realmente refletir um pouco sobre o que faz no dia a dia. Controlar 100% as suas atitudes é algo impossível e até mesmo não saudável... mas acho que é importante pelo menos a gente parar pra pensar no quanto a gente atinge o próximo sem nem mesmo notar. Quando estamos irritados, e acabamos descontando em quem não merece, ou quando magoamos alguém que gostamos, com alguma atitude ou piadinha desnecessária.
Já me senti "morta" algumas vezes, e muitas vezes acontece quando e de quem a gente menos espera. As vezes é difícil "ressuscitar" depois, mas a gente dá um jeito. E se não tem jeito, a gente inventa um. O importante é voltar a vida.
O mais interessante, no entanto, é perceber que podemos evitar tanta tristezinha por aí, tanta "morte". Já falei aqui sobre elogios e a necessidade gostosa que todos devíamos sentir de elogiar pelo ato de elogiar, trazer aquela sensação boa de receber um "bonito batom esse seu" ou "que bonito que você está hoje", que é totalmente verdade, mas que não é lembrada as vezes porque parece ser "só uma coisinha boba". E não somente elogios, mas o respeito com o outro e tudo mais. Não sabemos o que o outro está sentindo, pelo que ele está passando... temos que cuidar sempre para evitarmos uma mágoa desnecessária. Temos é que priorizar sair espalhando coisas boas por essa vida, porque é isso que importa, não é?
            Vamos usar esse nosso poder das palavras, do cuidado, daquele bom dia espontâneo, aquele sorriso, pra "salvar", nem que seja por alguns minutinhos, a vida de alguém. Faz bem pras duas partes. 
Sem mais mortes, ok? 
E partiu ver mais Criminal Minds, porque atrasada é pouco!

                                                                                             S.

sábado, 4 de março de 2017

Ingenuidade ou esperança?

Segundo dia do mês de março.
Povo recebendo e tendo que pagar contas e os bancos estão lotados de gente.
A agência tinha mais ou menos 30 pessoas na fila para usar os 12 caixas de autoatendimento, e apenas 2 funcionários para auxiliar.
O primeiro caixa, mais próximo a porta, e mais longe da visão do primeiro da fila, fica vago.
Ninguém se mexe para utilizá-lo.
Chamo a atenção do funcionário mais próximo e pergunto se aquele caixa funciona. Ele responde que sim, percebe que está vago, e chama o primeiro da fila para usá-lo.

Até aí tudo bem.

Homem moreno, camiseta azul e óculos escuros na cabeça, na faixa dos 35-40 anos dá uma risadinha nas minhas costas, inclina-se na minha direção e profere a seguinte sentença:
"Não tem que avisar isso não moça. Quando libera e ninguém vê tem que ir usar e deu."

Eu me viro na direção dele, bem lentamente devido a incredulidade, e digo, realmente rindo de espanto pelo que ele disse e digo "Não... não tem." (Quem conhece minhas caretas de expressão entende como minha cara estava nesse momento...)

O homem então continua:
 "Tem que usar sim, não dá de ser ético 24 horas por dia... (ele fala isso rindo, mas não como se brincasse, e sim como se não fizesse ideia de porque eu não estava fazendo exatamente isso!)." E ele ainda completa, "Ainda mais no Brasil... O próximo que 'mosquear' eu vou ir, não quero nem saber."

Não vou falar aqui sobre o quão triste eu fiquei de ter estado naquele momento, vendo a prova viva do porquê que falam tão mal do jeitinho brasileiro de lidar com as coisas. Eu só queria realmente ter certeza de que eu sou a pessoa com a atitude correta nessa história. Porque aquele homem é a porcentagem da população que vai taxar pessoas como eu de ingênuas e idiotas, além de outros afins, mas eu tenho que saber que o errado ali era ele.

Porque se eu for realmente a idiota da história, eu vou ter perdido mais um pouquinho da fé no ser humano.


Se ele for o correto, por favor, que eu continue errada.